Entre a Fé e o medo: uma noite no Hospital
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Entre a Fé e o medo: uma noite no Hospital

O hospital de Alfredo Wagner sempre foi um lugar de acolhimento e cuidado, onde médicos e enfermeiros dedicavam-se incansavelmente aos pacientes. Há cerca de dezessete anos, vivi uma experiência que nunca esqueci. Minha mãe adoeceu gravemente e precisou ser internada. Foram dias de apreensão, acompanhados pela dedicação dos profissionais que, além da técnica, ofereciam também palavras de conforto. Entre eles, estava a enfermeira Gueta, conhecida por sua franqueza. Certo dia, ela me disse sem rodeios que o estado de minha mãe era crítico e que talvez ela não resistisse por muito tempo.

Aquele dia foi longo. A rotina hospitalar seguiu seu curso, mas dentro de mim uma tempestade de emoções se formava. Quando a noite caiu e as luzes foram sendo apagadas uma a uma, restando apenas a iluminação fraca dos corredores, o hospital mergulhou em um silêncio inquietante. Já passava da uma da manhã quando decidi buscar forças onde sempre encontrara: na oração. Dirigi-me à pequena capela do hospital, um espaço simples, mas carregado de significado.

Ali, sozinho, ajoelhei-me e comecei a rezar. O ambiente era silencioso, mas não vazio. Havia algo especial naquela atmosfera, uma presença reconfortante que preenchia a alma em momentos de desespero. Permaneçi assim por um tempo, imerso em minhas preces, quando algo inesperado aconteceu.

Sem que eu percebesse, uma enfermeira muito querida por todos, a Da. Marlene Truppel, também sentiu vontade de buscar amparo na oração e foi até a capela. Como o hospital estava em seu habitual estado de quietude noturna, ela entrou sem fazer barulho. No entanto, ao abrir a porta, avistou, atrás do banco, um par de pernas que não esperava encontrar. A surpresa foi imediata! O susto tomou conta dela, mas não era a única a se assustar. Eu, concentrado em minhas orações, não ouvira os passos leves dela se aproximando e fui pego de surpresa pelo som repentino da porta se abrindo e pelo grito instintivo da enfermeira.

Por um instante, o medo dominou a capela. Ela pensou ter visto algo sobrenatural, e eu, ainda sob a tensão do momento, levei alguns segundos para entender a situação. Quando finalmente nos olhamos e percebemos o mal-entendido, a tensão se dissolveu em risadas nervosas.

Aquela noite me ensinou uma lição valiosa: a oração não era apenas um refúgio meu, mas também para aqueles que, dia e noite, dedicavam-se a salvar vidas. O hospital não era apenas um local de dores e despedidas, mas também de esperança, fé e momentos inesperados de humanidade. No fim, minha mãe superou aquela enfermidade e viveu por muitos anos mais. E eu, sempre que lembro daquela noite, sorrio ao recordar que, entre a fé e o medo, é a fé que nos sustenta.