Esgotamento emocional e desmotivação estão entre os principais desafios das empresas na retenção de talentos
Nos últimos anos, um fenômeno silencioso tem impactado significativamente o mercado de trabalho: o cansaço social pós-pandemia. Segundo especialistas, esse esgotamento emocional coletivo tem levado a um aumento do absenteísmo, do presenteísmo e da falta de engajamento profissional. Para as empresas, isso se traduz em desafios crescentes na atração e retenção de talentos, além de prejuízos operacionais.
De acordo com Elcio Paulo Teixeira, CEO da Heach Recursos Humanos, esse fenômeno é resultado de um estresse prolongado iniciado com a pandemia e agravado por fatores como luto, isolamento, instabilidade econômica e sobrecarga emocional. “O cérebro humano não foi projetado para lidar com níveis tão altos de estresse crônico. Mesmo após a pandemia, os impactos desse esgotamento continuam evidentes no comportamento dos profissionais”, afirma.
O cansaço social reflete-se diretamente no ambiente corporativo. Dados levantados pela Heach Recursos Humanos indicam um crescimento expressivo de faltas inesperadas por razões emocionais e de saúde mental. Além disso, o chamado “ghosting profissional” — quando candidatos aprovados sequer comparecem ao primeiro dia de trabalho — tem se tornado um problema frequente.
Entre as áreas mais afetadas, destacam-se saúde, educação, logística, varejo e tecnologia. Profissionais dessas áreas apresentam maior propensão ao burnout, demonstram desinteresse por processos seletivos e exigem maior flexibilidade nas condições de trabalho. “As empresas precisam entender que não estão lidando com uma geração desinteressada, mas com uma sociedade que ainda se recupera de um trauma coletivo”, ressalta Teixeira.
Outro efeito colateral do cansaço social é a sensação de que o tempo está acelerado, aumentando a ansiedade e a frustração no ambiente corporativo. “Quando o cérebro está em estado de alerta constante, ele não processa o tempo de forma natural. Isso contribui para a sensação de dias e semanas passando mais rápido, intensificando o esgotamento mental”, explica o CEO.
Diante desse cenário, Elcio alerta para a necessidade de um novo olhar sobre a gestão de pessoas. Para ele, as empresas que não se adaptarem a essa realidade podem enfrentar dificuldades ainda maiores com turnover e perda de talentos. “Não basta mais falar em produtividade e metas sem considerar o lado humano dos colaboradores. Precisamos mudar a forma como lidamos com as pessoas”, enfatiza.
A solução passa por estratégias que priorizem o bem-estar dos profissionais, como revisão da proposta de valor ao colaborador (EVP), oferta de suporte psicológico, adoção de uma liderança mais humanizada e processos seletivos mais empáticos. “Sobrevivemos a uma pandemia, mas agora o desafio é reaprender a viver e trabalhar”, conclui Teixeira.
MARIANA YOLE