A recente tragédia na República Dominicana, que vitimou pelo menos 221 pessoas após o desabamento do teto da boate Jet Set em Santo Domingo, provocou comoção nacional e um luto coletivo que reverbera muito além das fronteiras do país. O acidente, ocorrido durante uma apresentação do renomado cantor de merengue Rubby Pérez — que também está entre os mortos — evidencia a urgência de uma discussão profunda sobre segurança estrutural em casas de espetáculos e espaços de entretenimento em geral.
Mais de 300 socorristas trabalharam incansavelmente por dias, resgatando corpos e procurando sobreviventes em meio aos escombros. A imagem aérea da boate, com um enorme buraco no centro do teto, é símbolo de uma tragédia que poderia ter sido evitada com fiscalização adequada.
Negligência que custa vidas
Boates, cinemas, teatros e casas de show devem seguir rigorosos padrões de segurança, pois qualquer falha estrutural, elétrica ou de evacuação representa um risco imenso para centenas de pessoas. Infelizmente, casos como o da boate Jet Set não são isolados.
No Brasil, a memória da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), ainda é dolorosamente presente. Em 27 de janeiro de 2013, um incêndio causado por um artefato pirotécnico utilizado em um show resultou na morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos. A tragédia chocou o país e o mundo, e levantou uma série de questionamentos sobre a ausência de fiscalização, falhas no sistema de segurança e a impunidade dos responsáveis.
Na época, o então comandante dos bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido Pedroso de Melo, afirmou que o alvará da boate estava vencido e que o estabelecimento não possuía saídas de emergência adequadas. “Foi uma sucessão de negligências, e o preço foi pago com vidas humanas”, declarou.
Falta de fiscalização é problema global
De acordo com relatório da NFPA (National Fire Protection Association), uma das principais organizações mundiais dedicadas à segurança contra incêndios, 60% dos incêndios fatais em locais de entretenimento entre 2000 e 2020 ocorreram em estabelecimentos sem sistemas adequados de alarme e controle de fumaça. E 75% das mortes foram atribuídas a falhas na evacuação, como portas trancadas, saídas insuficientes ou falta de sinalização.
O engenheiro civil e especialista em segurança predial Eduardo Figueiredo, em entrevista ao jornal O Globo após a tragédia da Boate Kiss, alertou:
“A maioria dos estabelecimentos vê a segurança como um custo, não como um investimento. E o poder público nem sempre fiscaliza com a frequência necessária. Isso é uma combinação trágica.”
Mais que luto, responsabilidade
A comoção causada pela morte de Rubby Pérez e das mais de 200 pessoas na República Dominicana deve ir além do luto. Ela precisa mobilizar governos, empresários e a sociedade civil para a criação e o cumprimento rigoroso de normas de segurança em espaços de aglomeração.
Cabe aos proprietários desses estabelecimentos não apenas obter os alvarás necessários, mas também manter revisões periódicas de suas estruturas, equipamentos contra incêndio, sinalização de emergência e rotas de evacuação. Ao poder público, cabe o papel de fiscalizar, aplicar penalidades e impedir o funcionamento de espaços que colocam vidas em risco.
Conclusão
Tragédias como as da boate Jet Set e da Boate Kiss não devem ser vistas como fatalidades isoladas. Elas são o retrato da negligência, da burocracia falha e da priorização do lucro em detrimento da vida. O respeito à segurança precisa ser prioridade absoluta em qualquer local destinado ao entretenimento.
A dor das famílias que perderam entes queridos é um lembrete doloroso de que a falta de prevenção custa vidas — e que a responsabilidade é de todos nós.