História Memória Notícias

Um fato da história que a maioria desconhece: A disputa em Bom Retiro durante a emancipação de Alfredo Wagner

A emancipação política de Alfredo Wagner, oficializada em 1961 com o desmembramento de Bom Retiro, gerou um dos episódios mais curiosos da história política local. Antes da criação do novo município, a região era representada na Câmara de Vereadores de Bom Retiro por parlamentares que, com a nova divisão territorial, naturalmente deixariam seus cargos para compor o governo municipal de Alfredo Wagner. Entretanto, a transição política não ocorreu sem embates.

Os vereadores que representavam a região de Alfredo Wagner pretendiam exercer sua última atividade legislativa em Bom Retiro presidindo a Câmara Municipal antes do encerramento de seus mandatos. Contudo, os representantes bom-retirenses tinham outros planos. O impasse levou a um episódio inusitado: a realização de duas eleições simultâneas para a presidência da Câmara, resultando em uma situação de dualidade de poder legislativo.

Na primeira terça-feira de fevereiro de 1962, data marcada pela Lei Orgânica para a escolha das Mesas Diretoras das Câmaras Municipais, os vereadores de Bom Retiro se preparavam para a votação. No entanto, ao chegarem à sala destinada às reuniões na Prefeitura, encontraram as portas fechadas. Diante da impossibilidade de realizar a eleição no local oficial, o vereador Jaime Machado, conhecido como Tôco, reuniu seu grupo no salão “Pendura Saia”, onde realizou sua própria sessão e se elegeu presidente da Câmara.

Enquanto isso, no espaço oficial da Prefeitura, os demais vereadores procederam com a eleição e escolheram Reyaldo Alovisi para ocupar a presidência do legislativo municipal. A existência de duas Mesas Diretoras gerou um impasse jurídico que rapidamente foi levado à Justiça. O prefeito municipal de Bom Retiro, Flores de Oliveira, e o vereador Alovisi recorreram ao tribunal para resolver a questão, contando com a assessoria do renomado advogado Wilfredo Currlin, especialista em questões político-administrativas.

O caso ilustra não apenas a complexidade da emancipação de Alfredo Wagner, mas também os desafios da transição política em um cenário onde antigas lideranças buscavam preservar sua influência. O episódio entrou para a história da região como um reflexo das disputas de poder locais e da importância da representação política na definição dos rumos municipais.

Ainda hoje, a emancipação de Alfredo Wagner é lembrada como um marco de autonomia, mas também como um período de intensas articulações políticas. Episódios como esse mostram como o processo democrático pode ser conturbado, mas fundamental para a consolidação das instituições locais.