O brasileiro é um milagre

O brasileiro é um milagre

“A frase é de Câmara Cascudo: ‘o melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro’. Sábias palavras! Nossas microempresas, mesmo diante deste tenebroso quadro, têm sido gigantes em suas fraquezas”

POR PEDRO VALLS FEU ROSA | 04/08/2015 09:30

Pedro Valls Feu RosaPEDRO VALLS FEU ROSA

-
Faça uma doação para a manutenção do portal de notícias
Jornal Alfredo Wagner Online
https://jornalaw.com.br/doacao/

Fiquei a pensar nelas há alguns dias, ao ler uma coletânea de financiamentos concedidos pelo Brasil, nas últimas décadas, a empresas e até mesmo países estrangeiros. Ora é uma empresa europeia que duplica seu parque industrial com a nossa ajuda, ora é um país africano que melhora sua infraestrutura graças aos nossos cofres.

Nada contra ajudar outros povos, e fique isto bem claro. Mas que não nos esqueçamos, jamais, do notável povo que habita esta terra – um povo que nunca retirou seu sustento de guerras ou invasões, e cujos ancestrais conseguiram o milagre de fazer grande um país pilhado e saqueado ao longo de séculos. Sim, eis aí uma verdade pouco divulgada e pouco comentada, mas que deve ser dita: o povo brasileiro é um milagre!

Inicio trazendo recente estudo da “London Business School”, divulgado recentemente, a mostrar que, entre 21 países pesquisados, o Brasil tem o povo mais empreendedor. De cada oito brasileiros, um está tocando seu próprio negócio. Nos Estados Unidos, o segundo colocado, a relação é de dez para um. No Japão, de cem para um.

O incrível é que o brasileiro, em sua ânsia empreendedora, não se intimida sequer diante da insensibilidade e baixa inteligência da burocracia. Assim, por exemplo, enquanto nos Estados Unidos são necessários quatro dias para a abertura de uma empresa, aqui gastamos 86. Por conta disso, 76% das microempresas brasileiras funcionam sem autorização.

E os processos trabalhistas? Nos Estados Unidos, 75.000 anuais. Aqui no Brasil, 2,2 milhões. Mas não desanima, o brasileiro!

A carga tributária é terrível: no dito “Primeiro Mundo”, oscila entre 20 e 24% do PIB. Enquanto isso, o empresário tupiniquim lida com espantosos 36% do PIB, um recorde mundial! Detalhe: no mais das vezes, sem contraprestação da Administração.

E isto tudo sem crédito. Recordo-me, por exemplo, de notícia que li em um jornal de grande circulação e que dá bem a ideia da situação: “Crédito para micros não sai do papel”.

Ouso, aqui, acrescentar que, com preocupante freqüência, sequer com a estabilidade das regras, indispensável para qualquer negócio, o empresariado tem contado – recente estudo do Idesp, realizado junto a 800 empresas, apontou que a morosidade do Judiciário, dado causar insegurança jurídica, acarreta perdas de US$ 100 bilhões de dólares por ano, em redução de investimentos e dispensa de pessoal!

Mas o brasileiro é mesmo um forte, como dizia o poeta: nossas microempresas, mesmo diante deste tenebroso quadro, têm sido gigantes em suas fraquezas.

Assim, as micro e pequenas empresas já são 3,4 milhões, ou 98% das empresas instaladas no Brasil. Empregam 35 milhões de pessoas, ou metade da população ocupada. Participam com 20% do PIB, ou 200 bilhões de reais. Respondem por 12% das exportações, ou 20 bilhões de reais.

Apenas para que se tenha uma ideia, somente a microindústria do artesanato emprega 8,5 milhões de pessoas, que produzem 2,3% do PIB – é quase o que representa a indústria automobilística, responsável por 3% do PIB.

Diante deste quadro, que privilegia tantas empresas estrangeiras em detrimento das brasileiras, talvez fosse oportuna uma reflexão sobre as palavras de Bernard Shaw, segundo quem “o maior dos males e o pior dos crimes é a pobreza”. Ou as de Lamennais: “o grito dos pobres sobe até Deus, mas não chega aos ouvidos do homem”.

Enviado com MailTrack
2d2e1a9d70991c500a118936c3036e538592ae00.png


Descubra mais sobre Jornal Alfredo Wagner Online

Assine para receber os posts mais recentes por e-mail.