Conversar com o Papai Noel numa praça iluminada na noite gelada de novembro pode parecer um sonho! Sonho?
Não costumo ter insônias, mas nesta noite foi difícil conciliar o sono… O silêncio da noite convidava a um passeio. O ar gelado da noite, contrastando com o calor do dia, convidava a uma caminhada pelas ruas da Capital Catarinense das Nascentes. Foi o que fiz.
Andando sem rumo, rio acima, dei uma paradinha na linda capelinha no Estreito, onde parei para uma rápida oração a Nossa Senhora e a Jesus presente na Sagrada Eucaristia.
Sem pressa para chegar a lugar algum, passei pelo Recanto da Arte, ainda iluminado pelas luzes natalinas. A madrugada estava bem agradável. Logo cheguei na Praça, toda iluminada.
Buscava com atenção o Presépio para fazer uma oração pela cidade que dorme… mas olho daqui, dali, e nada. Cadê o Presépio???
— O que procura com tanta atenção, meu filho??
Olhei para o lado, de onde vinha a voz cansada de um ancião e vejo, num trenó que não aguentaria ir até a Catuíra, quanto mais vir do Polo Norte até Alfredo Wagner, o bom velhinho, triste, solitário no sereno da noite.
— Eu sei, respondeu ele. É mais um ano em que eles não fazem o Presépio. Isso não é nada bom! Afastar o menino Jesus do coração das pessoas não é nada bom. A cada ano que fazem isso, mais tragédias se abatem sobre o Município! Será que já se esqueceram dos assassinatos desse ano? Não se afasta Deus do coração das crianças, das famílias, da cidade! Isso não é bom e você pode esperar só o pior!
Tentei falar alguma coisa, mas o Papai Noel não queria me ouvir… queria, isto sim, que alguém o ouvisse! Sentei ao seu lado no trenó e notei que lágrimas corriam de seus olhos!
— Uma cidade, disse o bom velhinho, uma cidade que afasta o Menino Jesus, razão do Natal, não pode esperar um bom ano. O presépio, meu filho, é tudo de bom! Ali você tem representado tudo que o ser humano precisa para ser feliz: a família, as crianças, os idosos, os amigos, os animais. Os ricos e os pobres, juntos adorando a Jesus menino. Em Paz!!! Como irmãos!!!
Não fui capaz de dizer uma palavra ao Papai Noel que, desolado, continuava:
— Tirar tudo Isso, não é bom, meu filho, não é bom! Deixaram só a velhice, que é obrigada a distribuir presentes, como se presente construísse o futuro de alguém. O Prefeito me deu as chaves da cidade… mas tirou dos idosos o lugar onde a gente se reunia para conversar, passar algumas horas juntos e entre amigos. O que é que eu vou fazer com essas chaves se a cidade nem porta tem?
Dessa vez o Papai Noel riu e fui obrigado a rir com ele! Logo, entretanto, sua tristeza voltou a rolar algumas lagrimas pelo rosto:
— Durante o ano “eu sou o tanto faz, para aqueles a quem tanto fiz”!!!
— Mas o que eu lamento, mesmo, é pelas crianças, meu filho! Elas são tão inocentes, tão crédulas, tão desprotegidas! Estão criando os filhos para serem como os pais! Lembrar dos velhos só quando trazem presentes, nada mais.
O silêncio pesa, depois de ouvidas palavras tão verdadeiras! Contudo, sem palavras, eu não sabia o que dizer ao Papai Noel, que olhava absorto a bela iluminação da Praça.
— Não sei o que dizer, Papai Noel, murmurei baixinho e também entristecido!
Um galo cantou ao longe, os pássaros também começavam a acordar. Me despedi do Papai Noel sem palavras e, cabisbaixo, voltei para casa. Enquanto roçava o mato, após o café da manhã, fiquei pensativo: Quanta verdade falou o bom velhinho!
E concluí: a gente sempre aprende com a experiência dos mais velhos!
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