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Os fundadores do Barracão e a mentalidade do Alfredense

O culto aos fundadores, seja de um país, de uma empresa ou de uma cidade, é algo que perpetua a memória da fonte de onde algo brotou.

Os fundadores imprimem o melhor de sua personalidade, permitindo que, após gerações, seus traços psicológicos ainda vivam com força e vigor.

Roma, a cidade dos césares, tem como fundador Rômulo e ainda hoje carrega evidentes traços daquele que, mesmo sem o saber, colocou a primeira pedra, assentou o primeiro pilar do que seria no futuro um grande império e uma grande cidade.

Mas não vamos falar de Roma… vamos falar do Barracão!

Barracão é uma palavra feia! Uma barraca grande, etimologicamente falando. Embora feia, a palavra carrega muita história.

A história nos conta que houve uma tentativa de povoamento, nos tempos do Império, ao lado do Morro do Trombudo no caminho, uma picada apenas, que levava de Nossa Senhora do Desterro até os Campos de Lages onde se localizava a Vila de Nossa Senhora dos Prazeres de Lages. O local desagradou aos pioneiros devido a umidade e o barral que se formava em épocas chuvosas.

A tentativa de povoamento, por conta do decreto imperial criando a Colônia Militar Santa Thereza, já havia sido precedida por outra anterior, de iniciativa de tropeiros mas que não vingou devido aos ataques de indígenas e as enchentes que periodicamente atingiam o local. Só muito mais tarde, a região da foz dos Rios Caeté e Adaga, voltariam a receber habitantes.

Um dos primeiros casais que ali se estabeleceram foram Sebastião António Pereira, ou Bastião da Gracinda, como era mais conhecido (Gracinda era o nome de sua mãe), nascido em 1878 na Colônia Militar de Santa Thereza, casado em 1902 com Izaurinha da Cunha Pereira,

A história pormenorizada destes dois pioneiros foi preservada no artigo: Quem fundou o Barracão? e poderá ser lida com atenção no link.

O que vamos destacar aqui é a psicologia destes dois pioneiros cujas características assinalam fortemente o povo alfredense.

Bastião da Gracinda e sua esposa Izaurinha (que ele carinhosamente chamava de Santinha) formavam um casal típico dos primórdios do município.

Uma das características mais marcantes do fundador do Barracão era a esperteza e capacidade de ajeitar as situações com vistas a um fim. No artigo acima, menciono como Sebastião António Pereira, conseguiu, para a recém erguida Igreja do Barracão, uma imagem do Bom Jesus “emprestada” pelo povo de Santo Amaro da Imperatriz. Outros já tinham tentado, mas nenhum trouxe a imagem. O Bastião da Gracinda, trouxe!

Dona Santinha era de uma inocência inimaginável! São muitos os fatos que retratam sua ingenuidade. Um dos mais característicos, me foi contado pelo saudoso Sr. Fernando Luis Poeta que certa vez levou uma coça de seu pai por não atender ao Bastião da Gracinda… mas esta é uma outra história que qualquer dia contarei com detalhes.

O Sr. Fernando Poeta me contou que Dona Santinha tinha no terreiro de sua propriedade muitas galinhas, mas ela não gostava que se matassem as aves. Sua alma generosa e caridosa não aceitava que se estrangulasse os bichinhos. Só aceitava preparar uma galinha para refeição se ela fosse encontrada morta.

Sabedor do gosto de sua esposa, o Sebastião António Pereira, respeitava e sempre atendia a seus desejos, mas não deixava faltar em sua mesa a galinha, seja ensopada, assada ou numa deliciosa canja. Pela manhã, Bastião da Gracinda, sem que a Santinha o visse, pendurava uma galinha no forcado da cerca do terreiro. O galináceo se debatia até morrer. Ele, o Bastião, procurava sua esposa para anunciar: “Veja só Santinha, mais um frango tentou fugir e ficou preso na cerca!

Ela, ingênua e acreditando sempre no marido, comentava com muita inocência: “Mas veja só Bastião, e não é que é verdade! Mais uma galinha tentou fugir“. Com jeito, tirava a ave da cerca e a levava para preparar para o almoço.

O povo alfredense, de algum modo, carrega em sua psicologia estas duas características: a ingenuidade e inocência da Santinha e a esperteza e capacidade de tornar as situações a seu favor do Bastião da Gracinda.

Poderíamos comentar inúmeras outras situações, mas fiquemos com estas.

Bastião e Santinha representam o povo Alfredense. Eles estão na política, eles estão na religião, eles estão na sociedade em geral, que ora puxa mais as características de um, ora as de outro.

E o Barracão, embora tenha crescido e progredido, tenha até mudado de nome e se tornado um município, Barracão é o reduto sagrado onde esta psicologia sobrevive, e sobreviverá por muitos anos.

Este reduto sagrado não permite a entrada de qualquer um. Não! Ninguém tira o que lhe é de direito! Tanto é assim, que todos os prefeitos, exceto o primeiro que foi um interventor, foram do Barracão, e se os leitores me permitirem uma previsão: todos os futuros prefeitos também serão do Barracão.

Ser do Barracão não é apenas morar no Barracão (hoje relativamente ampliado por Barracão de Dentro, de Fora e o Sombrio), mas é ter esta psicologia que caracterizou os fundadores: ser ladino, esperto, capaz de alterar as circunstancias a seu favor ou a favor de uma causa ou ter uma ingenuidade tão grande que acredita em tudo.

Muitos falam em restaurar a Festa do Barracão… enquanto não se tiver esta característica dos antigos fundadores, dificilmente se chegará ao sucesso que foram as primeiras e pioneiras festas.

Muitas considerações poderiam ser feitas, mas o artigo está longo! Apenas quero lembrar que tanto os pioneiros, Sebastião António Pereira e Izaurinha da Cunha Pereira, quanto o patrono do município, Alfredo Henrique Wagner, eram católicos praticantes e de vida exemplar. Do Céu, onde eles certamente estão, rezam por nós alfredenses!


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