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Palestras sobre tecnologia e recursos humanos no agronegócio encerram o IX Abisolo Fórum e Exposição 2022

O filósofo e escritor, Luiz Felipe Pondé, consolidou as reflexões sobre as perspectivas das lideranças em tempos de transformações

O segundo dia do IX Abisolo Fórum e Exposição 2022 reuniu mais de 750 congressistas e 47 expositores, no dia 02 de junho, em Campinas. A programação contou com os painéis “Adoção de Tecnologia”, no período da manhã, e “Recursos Humanos e Comportamento”, à tarde.  A primeira palestra do dia, “Integração Lavoura- Pecuária”, foi ministrada pelo mestre em Agronomia e doutor em Zootecnia, Cristiano Magalhães Pariz.

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O palestrante iniciou sua participação apresentando o resultado de 20 anos de pesquisas sobre a atuação concomitante da pecuária e da lavoura. Segundo Pariz, o pasto é um dos principais responsáveis pela qualidade da carne bovina, enquanto os dejetos dos animais fazem com que o solo fique muito mais fértil, aumentando a produção.  Ele sugere que a prática da agropecuária de insumos e processos, assim como o entendimento de Ciências Agrárias seja o futuro para as fazendas de pecuária. O zootecnista estimou que 60% dos pecuaristas em atividade vão desaparecer em 20 anos. A sobrevivência nesse mercado, explicou o palestrante, só será possível por intermédio de conhecimento, tecnologias, treinamento de mão de obra, planejamento e suporte de consultorias especializadas.

Ainda dentro do painel dedicado à tecnologia, o professor associado em Microbiologia do solo e doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, Fernando Andreote, discorreu sobre “Solo, a nova (velha) fronteira da produtividade”. Ele comparou o solo a um grande quebra-cabeças, em que as peças são a nutrição vegetal, as máquinas, a proteção de plantas, o manejo da água e a qualidade de operações.  Para o professor, a qualidade do solo ainda é um desafio e o conceitua como o conforto necessário para o máximo desenvolvimento das plantas cultivadas, por meio da manutenção da qualidade da água, ar, solo e da promoção de alimentos capazes de garantir a saúde de animais e de seres humanos. Ele conclui que a eficiência nutricional deriva da qualidade do solo. Portanto, prover as condições necessárias para o enraizamento das plantas é construir uma base sólida e produtiva, tornando os cultivos mais resilientes frente às adversidades ao longo do ciclo produtivo.

Para mediar uma breve discussão sobre tecnologia, foi convidado o professor associado do Departamento de Ciências do Solo e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Adriel Ferreira da Fonseca. Ele promoveu suas considerações a respeito da importância da adoção de tecnologia desde o preparo do solo. “A gestão de nutrientes é fundamental para a melhoria do solo, tanto quanto a rotação de cultura bem-feita, escolha da cobertura de solo e manutenção de PH. É primordial produzir solos com bons atributos químicos e físicos para potencializar fontes alternativas de nutrientes”, concluiu. Fonseca também mediou um breve debate entre os palestrantes Fernando Andreotti, Cristiano Magalhães Pariz e Gilberto Tozatti, que responderam as dúvidas técnicas dos congressistas.

Na sequência, a palestra “Fertilizantes Organominerais como estratégia alternativa ou complementar à adubação mineral convencional”, foi conduzida pelo consultor e especialista em agronegócios e professor, Gilberto Tozatti. O painelista enfatizou as vantagens do fertilizante organomineral, que é natural do solo, produto da decomposição dos restos de floresta infestados por microorganismos, insetos, vermes etc., formando o húmus e liberando sais minerais. O consultor explicou que eles contribuem significativamente para o aumento da produtividade, trazendo ganhos econômicos e ambientais, fornecendo matéria orgânica nos solos tropicais, aumentando a atividade microbiana no solo e, ao mesmo tempo, suprimindo a atividade de organismos fitopatogênicos.

Alternativas à adução convencional

Para incentivar a produção nacional de insumos e diversificar as práticas de adubação no Brasil, o Governo Federal tem avançado na implantação do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). O tema esteve na pauta do IX Abisolo Fórum e Exposição 2022. O coordenador geral de Estudos de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Federal, José Carlos Polidoro, apresentou o PNF e a importância das cadeias emergentes para o desenvolvimento da agricultura. Polidoro ressaltou que, sem fertilizantes, não há agronegócio no Brasil, já que os solos do Brasil são pobres e os fertilizantes essenciais nesse processo. O painelista apresentou o PNF elaborado em 2020 por 91 órgãos, entidades, empresas, em um total de 290 pessoas.

O plano conta com cinco cadeias emergentes do setor de fertilizantes e insumos para a nutrição de plantas. Dentre elas, estão os fertilizantes organominerais, produtos e resíduos com potência agrícola, agrominerais e remineralizados, bioinsumos e, por fim, nanotecnologia “slow-release” e agricultura digital.  Polidoro enfatizou, dentre as metas do Plano, a oferta de produtos e processos tecnológicos promotores da eficiência agronômica dos fertilizantes e dos novos insumos para a nutrição de plantas, além do desenvolvimento tecnológico para redução em até 50% do passivo de resíduos do beneficiamento e de rejeitos da atividade da mineração de fosfatos até 2030.

Formação do profissional de Ciências Agrárias

Em seguida, abrindo o painel “Recursos Humanos e Comportamento”, o jornalista da CNN Brasil, William Waack, promoveu uma discussão sobre as demandas de profissionais qualificados no agronegócio, especialmente aqueles que atuam ou que pretendem atuar no segmento de nutrição vegetal. “Ou qualificamos os jovens ou não teremos perspectiva de crescimento“, alertou Waack. Ele apontou como problemas o déficit de mão de obra qualificada e a ausência de um suporte educacional especializado.  Waack lembrou que cabe a cada um aprender pelo menos um idioma, além do pátrio, e dominar as ferramentas tecnológicas da profissão, que mudam constantemente.

Continuando no assunto de Recursos Humanos, com mediação de Waack, foram convidados o professor Adriel Fonseca, a gerente de Recursos Humanos e Business Partner na Yara Brasil, Juliana Souza, e a professora associada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Sônia Maria De Stefano Piedade, e o vice-presidente do conselho deliberativo da Abisolo, Gustavo Branco, a integrar uma mesa-redonda sobre “A Evolução do Agronegócio Brasileiro e as Demandas de Qualificação do Profissional de Ciências Agrárias”.

O questionamento inicial foi trazido pelo professor Adriel Fonseca a respeito de muitos cursos novos surgindo na área e a preocupação com formações a distância e longe do campo. Para ele, o engenheiro agrônomo não pode ser teórico. “Nos preocupamos com o carro que compramos, mas não nos preocupamos com a faculdade que cursamos“, criticou.  A executiva Juliana Souza reforçou a necessidade de uma formação complementar para moldar profissionais que propõem soluções, identificam oportunidades, tenham múltiplos saberes e uma visão holística, não só da área de atuação, mas da empresa como um todo, da cadeia logística aos clientes, o campo e que seja questionador.

A professora Sônia pontuou que alunos não podem sair da faculdade despreparados para a vida, reforçando que a universidade fornece as ferramentas, mas o aluno precisa ser comprometido. Ela citou como exemplo a própria Esalq, onde alunos generalistas podem fazer estágios e intercâmbios, ou seja, há oportunidade de uma carreira ampla já que o mercado está aquecido. O vice-presidente da Abisolo, Gustavo Branco, ponderou que no Agro há uma cobrança maior porque um erro pode ocasionar a perda de toda uma safra. Alinhado à Juliana Souza, ele conceituou o profissional qualificado como aquele que conecta a cadeia de conhecimentos e sabe usar a informação a seu favor. Waack alinhavou a discussão lembrando que o mercado de trabalho é exigente, influenciado pelas transformações tecnológicas.  O esforço pessoal, o espírito crítico e a capacidade de acompanhar as transformações foram listados pelo mediador como pilares para os novos profissionais.

Para encerrar IX Abisolo Fórum e Exposição 2022, o convidado foi o filósofo, escritor e Diretor do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, Luiz Felipe Pondé.  Pondé explicou que a ansiedade da nova geração tem origem na dificuldade de lidar com cobranças, pelas expectativas criadas pelos pais, pelo medo de não conseguirem lugar no mercado do trabalho e pelo excesso de informações. Por outro lado, explicou o filósofo, eles são bombardeados por discursos sobre direitos e merecimentos. “Os jovens estão mais duros e mais intolerantes com ideias não alinhadas as deles, julgam a tudo e todos, sentem medo do mercado de trabalho e de relações de afeto. Estão despreparados para a pressão e isso tudo gera problemas psicológicos”, analisou Pondé, concluindo que o segredo para sobreviver é ser flexível nas adversidades e aceitar o erro.

O IX Abisolo – Fórum e Exposição foi encerrado pelo Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal e Presidente da Abisolo, Clorialdo Roberto Levrero, que agradeceu aos organizadores, expositores, patrocinadores, painelistas e congressistas pela parceria, que propicia o crescimento de todo o setor de nutrição vegetal.


Fernanda Veiga


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