Foto: Tony Winston/ MS
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Fake news: falso virologista não trabalha no Hospital Albert Einstein e traz informações erradas sobre vacinas contra COVID-19

A campanha de vacinação contra a COVID-19 avança lentamente no Brasil. Segundo dados das secretarias de Saúde, apenas 30% da população brasileira receberam a primeira dose de um dos imunizantes disponíveis, e pouco mais de 11% completaram a imunização.

Além de problemas de logística e de aquisição de insumos para a produção, o excesso de fake news sobre vacinas contra a COVID-19 também atrapalham a imunização dos brasileiros. Uma das mais recentes que circulam pelo WhatsApp é um áudio creditado a um virologista de nome Roberto Klaus, que seria vinculado ao Hospital Albert Einstein.

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O suposto virologista diz que os imunizantes são experimentais e que não teriam segurança comprovada. Ele alerta também que as vacinas não foram testadas em idosos e que podem “atrapalhar o DNA” de vacinados.

O trabalho de checagem de notícias da Agência Lupa entrou em contato com o Hospital Albert Einstein, que afirmou que não há nenhum Roberto Klaus entre seus funcionários. A mensagem, portanto, é falsa, mas não apenas por ser creditada a um falso virologista.

Confira a seguir os trechos do áudio falso e as informações que revelam as várias fake news disseminadas nesse conteúdo:

Vacinas contra COVID-19 são seguras

“A segurança [da CoronaVac] não dá nem pra gente ter ideia, porque depende da variável tempo. Quem está tomando vacina agora faz parte de ser um voluntário, porque nós vamos avaliar os efeitos colaterais a longo prazo […] Essas vacinas são experimentais. Pode dar certo, como pode não dar certo”, diz o trecho do áudio que circula em grupos de WhatsApp.

A informação, porém, é falsa. Todos os imunizantes contra COVID-19 aprovados no Brasil, incluindo a CoronaVac, foram testados em milhares de voluntários e aprovados mediante análise técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os testes de fase 1, 2 e 3 demonstraram que são vacinas seguras, imunogênicas — ou seja, promovem resposta imune contra o coronavírus —, e apresentam a eficácia mínima recomendada pela OMS [Organização Mundial da Saúde] para aprovação”, explica à Lupa o epidemiologista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Guilherme Werneck.

Não há vacina “experimental” aplicada em pacientes

O especialista da UERJ explica também que o termo “experimental”, usado pelo falso virologista, é inadequado e não tem base científica.

Seriam experimentais se as vacinas não tivessem sido aprovadas em protocolos de ensaios clínicos que respeitam aquilo que é feito para o uso em populações. Elas cumpriram os requisitos. Essa é uma ideia que só contribui para diminuir a adesão das pessoas à imunização”, critica o epidemiologista.

Imunizantes contra COVID são constantemente avaliados

Werneck ressalta que os imunizantes continuam sendo avaliados, mesmo após a aprovação para uso, na fase 4 de testes.

Nessa etapa, a utilização das vacinas é acompanhada para gerar detalhes adicionais sobre a segurança e a eficácia do produto, além de detectar efeitos colaterais previamente desconhecidos. “Os estudos estão mostrando, na prática, o quanto essas vacinas são efetivas”, avalia.

Em entrevista à CNN, o presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, Carlos Fortaleza, afirmou que os resultados da eficácia da vacinação contra a COVID-19 são “incontestáveis”.

Vacinas são importantes e o resultado é incontestável, vimos como diminuíram as mortes entre as pessoas idosas, que foram vacinadas primeiro”, disse.

CoronaVac foi testada em idosos

Outro trecho do áudio do falso virologista diz que a CoronaVac não foi avaliada em jovens com menos de 18 anos e nem em pessoas acima de 59 anos.

“Na bula da vacina Coronavac, na bula da própria empresa Sinovac, laboratório chinês, tá escrito lá que ela não foi testada em pessoas acima de 59 anos”, diz o áudio.

A informação é falsa. Não consta na bula da CoronaVac que a vacina não foi testada em pessoas acima de 59 anos. De acordo com o relatório técnico entregue à Anvisa, 362 pessoas com 60 anos ou mais participaram dos testes da vacina conduzidos pelo Instituto Butantan.

Deles, 186 tomaram o imunizante e outros 176 receberam placebo. São, no entanto, minoria em comparação ao número de voluntários entre 18 e 59 anos (8.861 pessoas).

Na última semana, um estudo preliminar de pesquisadores brasileiros e estrangeiros apontou que a efetividade do imunizante entre idosos varia entre 61,8% (70 a 74 anos) a 28% (pessoas acima de 80 anos).

Essa diminuição da proteção é comum em qualquer tipo de vacina, já que o sistema imunológico se deteriora à medida que a pessoa envelhece.

Vacinas de RNA mensageiro não alteram DNA

“As outras [vacinas] são perigosíssimas também, porque nós não sabemos nada da segurança dessas vacinas a médio, longo prazo. Porque são vacinas gênicas, que mexem com o nosso código genético, fazendo com que as nossas células produzam partículas de vírus. Isto é um perigo!”, diz outro trecho do falso virologista.

Essa informação também é falsa. O RNA mensageiro, usado nas chamadas vacinas genéticas, como é o caso da Pfizer/BioNTech, não interage com o núcleo das células e não altera o DNA humano.

Não existe nenhuma base científica para dizer que vacinas de RNA mensageiro possam interagir sequer com o núcleo da célula. O RNA mensageiro é uma molécula que fica fora do núcleo da célula, então não tem como ela entrar em contato com o núcleo, muito menos com o código genético”, explica Werneck.

Outras versões desse boato já foram desmentidas anteriormente, como você pode conferir em três posts (123) do observatório de fake news contra a COVID-19.


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