Era madrugada em Alfredo Wagner, e a cidade repousava sob um céu estrelado que parecia abençoar a noite de Natal. Na praça central, as luzes natalinas piscavam como se sorrissem silenciosamente, refletindo-se nas poças formadas pela chuva recente. Em meio àquele cenário quase místico, surgiram duas figuras inesperadas.
— Então é aqui que o coração da cidade bate mais forte? — perguntou Papai Noel, ajeitando sua barba branca enquanto observava os detalhes da praça. Ao seu lado, o Soldadinho, nosso herói, mantinha a postura serena de quem conhece as dores e esperanças do povo alfredense.
Eu estava ali, meio por acaso, ou talvez atraído pelo encanto da noite e pela necessidade de uma pausa. Aproximei-me sem querer interromper a conversa. Noel olhou para mim e abriu um sorriso acolhedor.
— Venha, sente-se conosco. Temos muito a conversar.
— Com prazer — respondi, tentando conter minha surpresa por estar diante do bom velhinho e do Soldadinho, dois símbolos tão diferentes, mas igualmente poderosos.
— Soldadinho, quantas histórias você guardou em seu silêncio? — perguntou Noel, com a voz carregada de curiosidade.
O Soldadinho inclinou levemente a cabeça, como quem pondera sobre uma resposta importante.
— Guardo as histórias do povo. Cada prece, cada gratidão, cada lágrima que veio acompanhada de esperança. Este lugar é um santuário para quem busca um milagre ou, pelo menos, um pouco de paz. Aqui, as pessoas se reencontram com a fé.
Fiquei intrigado. Afinal, não era comum ouvir o Soldadinho falar sobre si mesmo. Aproveitei para perguntar:
— E o que você acha das luzes e da celebração do Natal na cidade?
Ele sorriu, um sorriso discreto, quase imperceptível.
— As luzes são belas, mas são as pessoas que fazem o Natal. Cada gesto de bondade, cada vez que alguém ajuda o próximo sem esperar nada em troca… Isso é o verdadeiro espírito natalino.
Noel assentiu, concordando.
— Sabe, Soldadinho, em minhas viagens pelo mundo, vejo muita gente esquecendo o que importa. Aqui, nesta pequena cidade, parece que o coração das pessoas ainda pulsa com o calor das relações humanas.
— Alfredo Wagner tem um jeito especial de manter as tradições vivas — comentei. — Mas não é fácil atrair a atenção das pessoas para isso. Elas se preocupam mais com as manchetes do dia a dia ou com os pequenos dramas locais.
— Talvez sejam essas pequenas histórias, os eventos cotidianos, que mais conectam as pessoas — refletiu Noel, arrancando de nós um sorriso. — É nelas que a essência da humanidade se revela.
A conversa seguiu noite adentro. Falamos sobre milagres, sobre a esperança que o Soldadinho inspirava, e sobre como o Natal não era apenas uma data, mas um momento para resgatar o que há de melhor em cada um de nós.
Quando a primeira luz do amanhecer apareceu no horizonte, Noel se levantou.
— Preciso partir. Muitas crianças ainda esperam por mim esta noite. Mas, Soldadinho, continue sendo a inspiração que este povo precisa. E você, — disse olhando para mim —, nunca deixe de contar as histórias deste lugar.
O Soldadinho acenou com um gesto de cabeça, e eu me despedi dos dois com o coração leve. A praça, agora iluminada pelos primeiros raios do sol, parecia ainda mais bonita. Enquanto caminhava para casa, percebi que a conversa tinha sido um presente de Natal, uma lembrança de que as histórias locais, mesmo as mais simples, são as que realmente tocam o coração.
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