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Razão para comemorar os 170 anos da Colônia Militar/Catuíra: – As Mulheres

As mulheres na Catuíra em fotografia antiga sem data, provavelmente da década de 1930/40 reunidas numa festa. As mulheres foram protagonistas de nossa história, A elas nossas homenagens nesta 4ª razão para comemorar os 170 anos da Colônia Militar/Catuíra. Fotografia gentilmente cedida pela Vereadora Evelize Althoff Heiderscheidt.

A começar pelo nome, esta Colônia teve a presença feminina de forma marcante e constante, embora seus nomes nos documentos oficiais e notícias de jornais da época aparecem menos vezes. 

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Lado a lado com seus maridos, irmãos, pais e filhos, as mulheres que viviam nos limites coloniais eram tão guerreiras quando os homens e sabiam enfrentar qualquer situação com o mesmo valor! 

Vamos conhecer, por exemplo:

Adolphina Carolina Henriette Bade, esposa de João Francisco Barreto, diretor da Colônia. Ela nasceu na Alemanha, filha de Heinrich Frederick Dethlef Bade e de Carolina Frederica Catharina Mancke. Nasceu em 1841 na Alemanha e faleceu em 1919 na ex-Colônia Militar, tendo sido enterrada no cemitério evangélico. Os registros sobre ela são confusos, apresentando a mesma Adolphina como tendo 3 filhos com João Francisco Barreto e 8 filhos com Fernando Dumel. 

Caso seja a mesma pessoa, ela aparece com o sobrenome Drummer em matéria publicada no jornal O Despertador de 1870 na edição 00734 em que o Coronel João Francisco Barreto a defende de acusações de um anônimo que se intitulava “Demônio sem asas” e “o Macuco do Pedro”. A polêmica girava em torno do uso de casa de propriedade da Província que era utilizada pela “alemã” sem pagamento de aluguel. 

Em sua defesa saiu o Coronel Barreto pelas páginas do mesmo jornal, desmontando as acusações feitas e justificando sua atitude perante os leitores catarinenses. 

Quanto a fallada casa da nação em que tem mui mal se agasalhado a pobre allemã Adolphina com seus innocentes filhos emquanto fazia nova para o que ha muito está puxando madeiras, (…) é uma casinha velha de palha em estado ruinoso. 

É esse rancho que tenho por vezes proposto ao governo nos relatorios que presto annualmente, sua demolição, que tenho cedido a outros nas circunstancias d´aquella pobre mulher, ainda mesmo a transeuntes sem aluguel algum (…). Ainda responde-se que fazendo ella parte da colonia não deve estar fora dos favores e auxilios que a outros se tem feito, pois que também é filha de Deus; embora o odio implacvel que esse demonio lhe tenha, só pelo simples facto de ser allemã: aos quaes aqui tem tratado aspera e grosseiramente só pela circunstancia da nacionalidade!” O Despertador de 1870 na edição 00734 – Mantivemos a grafia original. 

Maria Bertha, é uma jovem guerreira de 1880! O Capitão João Paulo de Miranda, diretor da Colônia Militar, relata em ofício ao Presidente da Província, que os bugres fizeram um ataque muito próximo à praça da Colônia, em terras de João Bertho da Silva. O Diretor, Capitão João Paulo e outros homens foram em direção ao local, chegando a tempo de assustar os índios, que pressentindo a chegada, fugiram: 

Segui immediatamente com o meu ajudante alferes João Berto da Silveira e alguns moradores da praça da colonia, em auxilio da gente que se achava na roça, cuja constava de uma moça e uns rapazes, filhos do mesmo colono, que se achava doente, e, chegando com a gente, não vi mais do que vestigios do assalto que deram; assalto que traria funestas consequencias, a não ser a denodada coragem da moça Maria Bertha, que lá se achava, cuja, escapando de uma flecha, e vendo um bugre lhe querer arrebatar um pequeno irmãozinho, atirou este para longe e enfurecida botou-se, armada de um páo, para o bugre agressor, luctando a tal ponto que deu tempo a elles presentirem gente em socorro e abandonaram a roça, ficando a moça, esse vulto de coragem, a botar sangue pela boca, pela força da lucta que teve.” Ofício n. 223 ao Presidente da Província publicado pelos jornais catarinenses da época. 

Maria Bertha recebeu uma indenização da Tesouraria Geral para fazer um tratamento em decorrência dos ferimentos recebidos na ocasião. 

Os índios, continua o relato, fugiram para o Campinho, onde o gado costumava ficar descansando quando eram levados à capital, e lá também foram achados vestígios e carcaça de animais que foram mortos para alimentação dos bugres. 

Maria José da Silva Ramos, ao que tudo consta, morava em Desterro onde tinha vida social ativa, mas preferiu mudar-se para a Colônia Militar Santa Thereza. 

Seu nome é mencionado na edição do A Regeneração de 1881 em agradecimento feito por familiares aos que ajudaram durante a enfermidade e falecimento de Francisco Xavier de Oliveira Camara: (a familia) “vêm do alto da imprensa testemunhar sua eterna gratidão à todas as pessoas que se dignarão accompanhar os restos mortaes d´este à sua ultima morada; bem como às que tão desinteressada e expontaneamente os auxiliarão na sua penosa e prolongada enfermidade, e nas difficeis e tormentosas horas de attribulações por que passarão.” (Grafia mantida no original). 

Maria José era viúva do 2º cadete sargento quartel-mestre Carlos Maria do Nascimento Ramos, falecido no Paraguai em 1867. Em março de 1890 ela enviou requerimento ao Governo Federal de Santa Catarina “tendo direito ao lote de terras de 22500 braças quadradas, que ao mesmo (o esposo falecido) competia, pede para lhe ser concedido o referido lote na colonia militar Sta. Thereza, passando-se-lhe o competente titulo. (Grafia mantida no original). “A República (SC)”, ano 1890 edição 00099. 

Tendo aqui se estabelecido, uniu-se em matrimônio com Pedro Muniz de Moura e faleceu em 1900. A certidão de óbito pode ser vista no site https://ahd.capitaldasnascentes.com.br 

Encerramos este artigo em homenagem às mulheres que residiram na Colônia Militar Santa Thereza com o relato de Roberto Avè Lallemant, médico já mencionado na “Alfredo Wagner em Revista – Jubileu de Diamante 1961/2021”. 

Segundo ele, naquela época, 1858, a maioria dos militares da Colônia eram brasileiros. Um, entretanto, era alemão e casado com uma alemã. “O médico da colônia, que encontrei em casa do comandante, levou-me à casinha da família. Os pais estavam do outro lado do Itajaí, colhendo milho. Mas encontrei algumas crianças sob a direção de uma menina de sete anos que era do mais completo tipo germânico. A pequena Catarina ficou muito admirada de que um alemão lhe falasse; mas ainda fiquei mais admirado de que a encantadora pequena me respondesse tão bem em puro dialeto alemão e que tão graciosamente cuidasse da casa e dos irmãos menores.” (AVÉ – LALLEMANT, ROBERTO – VIAGEM PELO SUL DO BRASIL, pag. 109). 

Abaixo você verá a lista de algumas mulheres nascidas na Colônia Militar Santa Thereza, extraída de pesquisas realizadas em alguns sites de genealogia.

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Ao mencionar estas mulheres queremos aqui homenagear a todas as Marias, Catarinas, Adolfinas, Terezas e tantas outras que contribuíram e contribuem para a grandeza deste município.